Não dá pra viver e contar ao mesmo tempo.
Cheguei de novo a Bangkok, num calor infernal, num vôo estranho, apertado mas com comissários super simpáticos. somente uma não gostou de mim desde o início. sempre passava reto com o café. Na terceira vez não tive jeito “scuza ragazza! io voglio un cafe anche!”, ela ficou puta, foi alto pra ela e meia duzia ouvir. Ela voltou, me serviu cafe e se foi.
Pra sempre.
Foi uma noite dificil, mas mudei de poltrona e ficou tudo bem, o outro comissário era birmanês (são ótimos todos eles, mesmo os malas ou desconfiados) e falava português. Aí ficou fácil…
Estava num vôo italiano sentido à Tailândia, fui ate Milão pois era o melhor vôo na relação custo-benefício e eu não queria benefício algum. Só queria chegar.
Mas não é certo reclamar somente, antes de sair de Paris ainda tive ótimos dias. Descobri uma grande amiga, conheci a família de outra, com uma autêntica-alternativa “mami” (avó) francesa divertidíssima. Até pulei carnaval em pleno dia de domingo. Dormi no aeroporto porque o vôo saía antes do metrô iniciar. Conheci um paquistanê -gente-fina- e talvez passe por lá logo mais. Conheci tambem um turco, um iraniano e indus eu já conhecia.
Agora posso ir por terra da europa até a Ásia.
Cheguei aqui, onde chamo de casa também, no prenúncio da balada. Cheguei de suspresa, meu quarto estava locado a outro…
Ok, nem dormi direito aquele dia mesmo…
Dia seguinte, uma balada “kinky”.
O quê?, perguntei, realmente do topo da minha ignorância.
“Kinky”, ao que pude perceber mais tarde é uma denominação pra festa gay. Bem gay.
Festa da galeria de arte, terceiro andar. Todos entravam bonitinhos, se trocavam em um dos quartos que estava pronto pra isso (tudo pensado) e saiam pra balada com suas ventimentas “kinky”. Era um tal de calça de couro sem bunda que você nem acredita. Meninas só de langerie também, chicotes, cinta-ligas… O engraçado de baladas gays é que as lésbicas não vão muito. Então as meninas que vão, “straights”, quando acham outro semelhante, não se incomodam trocar uns beijinhos.
Beijei todo mundo da festa graças a uma coleira que me colocaram, exceto as amigas mais próximas. Não posso reclamar de festa “kinky”. tava precisando de um pouco explosão momentânea…
Na europa e tudo muito frio. e quando fica asssim, afeta as pessoas também.
Fica tudo meio …frio.
Exceto pelo carnaval, que era bem brasileiro.
Duas da tarde de domingo, pegamos o metrô até onde se iniciaria a saga. Minha amiga habilidosamente se vestiu a caráter, eu não tinha tanto, apenas duas blusas e um casaco.
Ela foi toda linda, eu fui de turista.
No metrô já se via o início, parada à parada o vagão se enchia de fantasiados. No ponto final já era o carnaval em si. foi só sair a praça pra encontrar a bateria.
Prum frio de -4 até que fez calor.
Ninguém mais reparava ao branco insípdo da neve marcando a linha entre os lindos “cafés”, o rebolado do mulato era muito mais gostoso. As meninas , francesas e brasileiras nem se distiguiamN no berimbau, a francesa levava as toadas em seu sotaque, fazendo o povo girar na capoeira, criancinhas francesas, todas de fantasia. Luis XVI, gato, vampiro.
E quando encontramos com o ano novo chinês então foi o clímax. Cruzamos as prossissões e seguimos junto.
Carnaval, ano-novo chinês, dia dos namorados tudo no mesmo dia.
Tinha de tudo na festa.
Pulamos até as 7 da noite.
Um grande dia.
Mas antes…
Minha Paris pôde ser dividida em três partes: Montreil, Ferrieres-en-Brie e Paris.
Montreil- por lá fiquei numa amiga antiga muito atenciosa, mas estava passando por tantos maus bocados que eu, intruso, estava enrolado no meio de campo. No fim ela saiu da casa e eu fiquei (!!!) com os amigos dela. Descubro depois que um deles eh amigo de amigos proximos e periga até conhece minha ex. São Paulo, a maior província do mundo, falavamos. Foi ótima a estadia, pena que fiquei tempo demais da conta e estorvei um pouquinho… mas nos fins-de-semana eu sempre dava uma escapada e ía para…
Ferrieres-en-Brie – cidadezinha pequena que cresceu as custas da Eurodisney, ali do lado. Tem uma linda floresta e alguns casarões antigos…
Pra lá eu fui visitar minha amiga -muito-muito-muito querida- e passar com ela os fins de semana. num deles ficamos por lá, botando o papo em dia e vendo a neve cair. No outro ela me levou pra conhecer sua avó, uma personagem única. Chegamos a cidadezinha, repleta de casa antigas, algumas da idade-média ainda e adentramos no “reino da avó” . Ela sempre me falava dela, super natureba, somente comia vegetais, tinha uma horta em sua casa… chegamos em pleno inverno e a horta não estava lá. Mas a senhora, no mais saudável 83 anos que pude ver em minha vida até então, era por demais simpática. Comi plantas estranhas, ajudei-a a consertar pequenas coisas em seu piano – ela queria que eu o afinasse, jamais terei essa proficiência…- falamos sobre os gamos que comem a sua horta e novas formas de energia limpa. Tudo em francês, nem sei como nos entendíamos, eu não falo francês. Ou não falava…
Quando não deu mais pra ficar eu apelei pra uma amiga-de-amiga que era minha amiga mas não sabia ainda. liqguei as 22h e pedi abrigo.
Coração mais grande do mundo, ela me acolheu sem nem pensar 2 vezes, ou 3. Seu coração era realmente maior do que uma casa, principalmente a casa dela. Dormi feliz e contente debaixo da mesa do computador. Sabe, pela Europa se acha que 12m quadrados é casa.
Foi o melhor 12 quadrados que conheci.
Nos encontramos, Nos reconhecemos, nos gostamos. Cozinhamos, falamos de tudo, ou quase tudo. E o melhor, fizemos coisas normais. Não gosto de coisas turísticas, desprefiro. Então caimos na balada local, rock anos 50, delícia. Descobrimos uma linha de trem desativada e a invadimos, passando a tarde caminhando pela linha vem o mato crescer e falando da vida.
Essas linhas são bonitas talvez por mostrarem movimento, estatica, barulho e paz e seu enorme silêncio. Sabe quando você acaba de conhecer a pessoa mas parece que já a conhece a anos? Saimos de linha a caminhar até em casa, não sem antes provar a melhor baguete da cidade, um simulacro de pão de queijo e os famosos crepes…
Dia seguinte foi o carnaval que eu já contei… Acho que de Paris me foi a melhor coisa que aconteceu.
Segunda-feira à noite fui para o aeroporto e lá passei a noite esperando meu vôo a Milão. Porque não fazem uma área 24hs nos aeroportos? Algo mais confortável, que as pessoas pudessem passar lá seu tempo e dinheiro numa boa, sem ter que se espremer entre as cadeiras ou fumar do lado de fora, num frio do cão, a noite inteira?
Ps: No ultimo dia de frio intenso em Paris acho um puta casaco legal no metrô, de boa costura, super quente. No ultimo dia tilintando no casaquinhos brasileiros.
Peguei o vôo achando que estaria nevando mas só estava chovendo. Não tão menos mal… Faz frio no norte da Itália.